quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Eurídice



Ah, Eurídice, de mãos finas ou nem tanto assim; calejadas ou perfumadas; teu dorso, tua nuca que me deixa louco, teus vales, tuas covas, convexos, todas as formas! E tuas mãos, afoitas, aflitas, perdidas nas festas das buscas pelos esconderijos do prazer... Tuas mãos, a volúpia, o pecado, o perdão, o arrependimento, tudo junto, mas cada qual, de cada um, para um ou para os dois. Eurídice de mil histórias, fazendo a minha história, me ajudando a escrever, a imaginar, a sonhar, a inventar um nome, um lugar, um ali ou um agora, sem pensar no sempre de todos os nuncas. Eurídice, minha Eurídice, deitada, nua, na lua, na rua, na cama, no colo, no aperto, no abraço, no grito e no laço de cada prazer. As mãos que afagam e são também as que apedrejam e sacoleja minha imaginação, meu coração, meu corpo inteiro. Tudo de ti, Eurídice, eu carrego em todas as saudades que mudaram de nome para que nunca morresses...


... cada detalhe é sempre único e quase eterno. Dos pés à cabeça, do torso ao poço, por onde desço e mergulho na planície do ventre ou nos contornos das curvas perfumadas onde para cada pecado deus deixou também um perdão...


                                                                                                                                                 Pedro Bloch

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